Teresa Caldas

English

Teresa Caldas

Aos 18 anos, comprei o meu primeiro livro de yoga. Fiquei fascinada. Isso não só pelas estranhas posturas, mas sobretudo pelo que parecia emanar delas. Decidi de imediato que haveria de aprender yoga. Contudo, as necessidades familiares e a vida política foram prioritárias. Quando por fim fui a uma aula de yoga percebi que teria de procurar muito para encontrar aquilo que realmente procurava. Em 1988 encontrei Iyengar Yoga, no Kosmos, em Amesterdão. Fiquei de tal forma entusiasmada que imediatamente iniciei o Curso de Instrutores de Iyengar Yoga e pouco depois comecei a dar aulas. Sedenta de aprofundar os meus conhecimentos viajei até Poona, na Índia, para trabalhar com o próprio B. K. S. Iyengar.

Mais tarde fiz ainda um curso de quatro anos para instrutores de yoga dirigido por Dona Holleman e Orit Sen-Gupta. E continuei a estudar com e a praticar com a Orit que me mostrou a beleza e a profundidade dos textos clássicos de yoga (Vedas, Upanishads etc.)

Aquilo que transmitimos vem na sequência da sabedoria dos nossos mestres, dos nossos amigos, dos livros que lemos, da informação e das observações que reunimos e, finalmente, da forma como este conhecimento é absorvido e utilizado quotidianamente tanto na vida como na yoga.

Antigamente um guru tinha apenas um punhado de discípulos durante toda a sua vida. Estes eram seleccionados consoante a sua familia, saúde, religião, etc., e eram instruídos na arte da yoga desde a mais tenra idade. Estes gurus alcançavam a libertação apesar de confinados aos limites dos seus próprios corpos. Eram efémeros, etéreos e conseguiam realizar as mais espantosas proezas. O último destes grandes mestres foi Sri Krishnamacharya (1883-1987). Ele foi o ilustre professor e guru de Pattabhi Jois (Ashtanga Yoga), de B.K.S. Iyengar (Iyengar Yoga) e de T.K.V. Desicachar (Viniyoga). Julgo poder dizer que a união destas três correntes (o movimento em “flow”, a precisão na execução e o estado de abertura do coração e da mente) são aquilo a que hoje chamamos o método de Vijnana Yoga.

A técnica das asanas é importante e tem de ser aprendida. Mas a integração, a qualidade una do corpo, da mente e da alma, a compreensão da paisagem do corpo, a tranquilidade da mente que permite que se trabalhe com o corpo e não contra ele, tudo isto tem de ser sentido e compreendido. E isto exige tempo. Isto levou-me a sentar-me em meditação: ser e estar apenas. Com a meditação veio a quietude da mente, a possibilidade de observar e de “não-fazer” (relaxar) e de ver mais além. Só com a combinação destes elementos podemos alcançar uma prática de yoga plena e intensa, com a mente tranquila, o corpo descontraído e o coração aberto!

A minha continua procura na yoga foi em parte impelida por um sutra de Patanjali: “A postura é firme e agradável”. Esta frase intrigou-me profundamente, pois o que eu sentia inicialmente era tudo menos firme e agradável. Esta procura demorou muito tempo, mas foi gratificante.

Temos de praticar e de aprender com nós próprios. É necessária disciplina e uma grande força de vontade, é necessária devoção – um estado do coração aberto -, é necessário acreditar. Este acreditar é algo que vem da prática e é confirmado pela prática: da meditação, da pranayama ou das asanas.

Finalmente comecei a compreender melhor os textos de yoga. Como desvendá-los (as Upanishads, as Sutras, ou outros), como ver alguns dos segredos ocultos, como integrar ensinamentos tão profundos. Abriram outra porta para um outro “eu” e para a descoberta de uma saberia que se revela infinita. Estou certa de que o yogi do meu primeiro livro conhecia estes segredos!

Ensino yoga agora há mais de 25 anos. Em Outubro de 1995, inaugurei o meu estúdio de yoga – Studio Asana, no centro de Amesterdão, onde dei aulas, workshops ou fiz formação de professores de yoga. Fechei-o finalmente em 2013 para mudar para Silves, casa de família, onde tenho um estúdio de yoga. Dou aulas e workshops, nacionais ou internacionais. Silves tornou-se o meu sítio de preferência.

Sinto imensa gratidão por todos os meus professores.